Quem nunca sonhou em passar em um concurso público e ‘garantir’ a tão esperada estabilidade financeira? De fato, esse talvez seja o sonho de muitos profissionais em início de carreira, mas confesso a vocês que não sou tão adepto do modelo de processo seletivo adotado pela maioria dos órgãos públicos brasileiros. Durante três anos trabalhei como colaborador para uma conceituada instituição organizadora de concursos, mas por questões éticas não me vejo na condição de tecer qualquer tipo de comentário sobre o fato. Cabe apenas uma pequena reflexão: Será que os concursos públicos são capazes de selecionar os melhores candidatos ou servem apenas para selecionar os que mais se prepararam para as provas, sem avaliar aspectos pessoais de cada indivíduo, como vocação, competência e experiência profissional?
Caso o atual modelo sirva apenas para selecionar candidatos ‘treinados’ para não cair nos truques, macetes e ‘pegadinhas’ das questões de múltipla escolha ensinadas nos cursos preparatórios, as competências acadêmicas, profissionais e, principalmente, a vocação para exercer determinada função estariam comprometidas. E isso, no meu entender, afeta diretamente a qualidade dos serviços públicos oferecidos à população. Além do mais, acredito que há toda uma indústria de cursos preparatórios que lucra muito com o atual modelo, beneficiando candidatos com tempo e dinheiro para uma boa preparação e desfavorecendo candidatos de baixa renda, ou seja, por mais que exista a possibilidade de isenção da taxa de inscrição, sem um bom curso preparatório as chances de aprovação são mínimas.
No entanto não estou aqui para abordar questões didáticas ou técnicas, mas para auxiliá-los a entender a estrutura de um concurso, o que conta na hora de uma prova e como encarar uma maratona de 4 horas que exigem o máximo de esforço possível de nosso raciocínio lógico. E nesse sentido a psicologia pode ajudar bastante.
1 – Escolha:
Escolha um concurso com o qual você se identifique profissionalmente, que acredite ter vocação, competência, experiência e, principalmente, que possa agregar sentido e realização à sua vida. A remuneração é importante? Sim, sem dúvidas, mas caso você opte por concorrer a uma vaga apenas pelo retorno financeiro, as chances de você se tornar um servidor frustrado, estressado e insatisfeito serão maiores. Não é uma regra geral, alguns servidores acabam encontrando uma vocação após ingressarem na carreira pública e dedicam-se bastante ao trabalho. Escolhendo um concurso com o qual você se identifique, sua determinação e motivação serão maiores.
2 – Entenda o processo:
Um concurso não se resume a uma prova de múltipla escolha sobre conhecimentos gerais ou específicos. Um certame se inicia no ato da inscrição e a apostila mais importante que você precisa ler chama-se Edital. Por incrível que pareça, muitos candidatos são eliminados por não lerem os editais. Portanto, leia parágrafo por parágrafo, entenda as regras, se é permitido o uso de caneta azul ou preta, por exemplo, se a instituição publicou algum adendo, nota de esclarecimento, alterações no certame e anote toda a bibliografia recomendada, ou seja, o conteúdo que será exigido na prova.
3 – Foco:
Foco não significa se fechar em uma caverna, se desligar de tudo e enfiar a cara nas apostilas. Muita gente confunde foco com enclausuramento, mas ao contrário do que dizem os especialistas em coach, o enclausuramento pode causar ansiedade, esgotamento físico e mental, desmotivação e perda de foco! A dica é que você organize seu tempo de forma que possa dedicar algumas horas aos estudos, sem abrir mão do convívio social e familiar. A motivação muitas vezes pode ser desencadeada por um sentimento de apreço pela família, amigos e pessoas que amamos. Haverão os que irão desencorajá-lo(a), mas use isso à seu favor, seja menos enérgico(a) e não se deixe abater. Afinal, ninguém estará no local de prova para ajudá-lo(a) na reta final.
4 – Treine sua memória:
Enquanto os concursos exigirem que você basicamente decore conteúdos específicos, não há outra alternativa a não ser memorizar o conteúdo exigido. Não posso negar que também aprendemos bastante com os cursinhos, com a leitura de livros, apostilas e afins, mas você não irá aprender em seis meses o que não aprendeu em cinco anos de faculdade ou 13 anos de escola. Assista a vídeo aulas, os sites de streaming estão cheios delas, todas gratuitas, sucintas, objetivas e diretas. Caso possua ferramentas e conhecimentos necessários para baixar e converter vídeos em MP3, converta-os ou peça para alguém fazer isso para você. Ouça as aulas no carro, no intervalo do trabalho ou antes de dormir. O cérebro é capaz de memorizar conteúdos sem que você esteja, necessariamente concentrado. Caso ache necessário, utilize o gravador de voz de seu celular enquanto lê trechos da apostila que considere relevantes. Ouça-os sempre que puder. Acredite, ouvir o som da própria voz é uma excelente técnica de memorização.
5 – Relaxe:
É isso mesmo, nada de correria ou desespero. Quanto mais você relaxar, menos estressado e ansioso ficará no dia da prova. Adote uma rotina que lhe permita dormir no mínimo 8 horas durante a noite. Pratique exercícios físicos, alimente-se bem e tente não estudar por várias horas seguidas. O ideal é que haja um intervalo de 20 minutos para cada hora de estudo. E finalmente, às vésperas do dia da prova evite estudar ou fazer as famosas revisões. Tire o dia para relaxar, descansar e aliviar o estresse pré-prova. Acorde cedo no dia da prova, tome um café da manhã reforçado, beba bastante líquido e chegue cedo ao local de prova. Procure um local reservado e calmo, faça um breve alongamento nos braços, pernas e pescoço, sente-se e tente respirar profundamente durante 10 ou 20 minutos. Respire pelo nariz, conte até 3 mentalmente e em seguida expire pela boca lentamente contando até 5. Repita a técnica até sentir-se relaxado.
Dica extra: Simule provas de 4 horas em sua casa. Alguns sites disponibilizam provas de concursos anteriores para download. Treine em casa. No dia da prova evite levar alimentos de difícil digestão e opte por barras de cereais com aveia e mel, chocolate meio amargo ou algo doce. O cérebro recarrega as energias por meio da glicose e juntando todas estas técnicas a uma respiração coerente, maiores quantidades de oxigênio chegarão ao cérebro, evitando aquele inesperado ‘branco’ na hora de responder a uma questão que você tem certeza que sabe a resposta correta, mas não consegue se lembrar de imediato. É que quando estamos ansiosos, tensos ou nervosos, a respiração entra em estado de hiperventilação, ou seja, passamos a respirar de maneira acelerada e superficial. Isso impede que o cérebro receba quantidades de oxigênio necessárias para um bom funcionamento. E o nosso amigo simplesmente ‘trava’.
Em 2016 disputei uma vaga em um importante órgão federal, haviam duas vagas para a minha área, fui aprovado em 2º lugar na prova de conhecimentos gerais e específicos, mas o concurso era composto por 5 etapas e fui eliminado na penúltima, durante a inspeção de saúde. Portanto, se você é aspirante a um cargo na carreira militar ou em órgãos que exijam exames de saúde e teste de aptidão física, fique atento(a). Cuide de sua saúde e pratique exercícios.
E é isso, espero que tenham gostado. Boa sorte e boas provas!
Tem alguma dúvida ou sugestão? Envie para evandro@positivapsicologia.com.br